Em maio de 2023, “Super Mario Bros.”, o live-action que originalmente adaptou o universo dos games da Nintendo para as telonas, comemora 30 anos de sua estreia nos cinemas dos Estados Unidos.

A produção foi o primeiro filme da história baseado em uma franquia de jogos eletrônicos, e Mario já era bastante popular nos Estados Unidos à época. Criado pela desenvolvedora de videogames japonesa, o pequeno ítalo-americano e seus aliados tinham um potencial enorme nas telonas; no entanto, os planos dos produtores não saíram exatamente como o esperado.

Além de ser massacrado pelos críticos e pela audiência – o filme amarga míseros 29% no Rotten Tomatoes, e 4,1/10 no IMDB -, a arrecadação em bilheteria não foi capaz de cobrir nem mesmo o seu orçamento. Para piorar o cenário, “Jurassic Park” (1993) chegou aos cinemas estadunidenses poucos dias depois, e acabou com qualquer chance remota de aumento de público para a concorrência.

Somado a isso, o filme foi acusado de não adaptar os jogos fielmente. Especialistas e público geral não foram convencidos pelo seu humor, de ritmo arrastado, tampouco por seus efeitos visuais e estética cyberpunk, que em nada conversavam com o material de origem.

O trauma para a Nintendo foi tamanho, que a empresa só foi adaptar outro produto em live-action para os cinemas mais de 25 anos depois: o bem-sucedido “Pokémon: Detetive Pikachu” (2019) deu fim ao hiato.

“Super Mario Bros.: A Nintendo não participou do filme, e o protagonista desconhecia o jogo

Em entrevista recente à Variety, Rocky Morton, um dos diretores de “Super Mario Bros.”, admitiu as inúmeras falhas de sua obra.

Lamentando o insucesso, ele acredita que, caso a Nintendo estivesse diretamente envolvida na produção, as coisas poderiam ter tomado um rumo mais promissor:

“Se eu tivesse um relacionamento com [Shigeru] Miyamoto e o trouxesse a bordo, se ele fosse um produtor e entendesse o que estávamos fazendo, ele não teria deixado certas coisas acontecerem. Teríamos tido uma equipe e um filme bem diferentes”, explicou Morton.

É claro que Miyamoto é, até hoje, a pessoa mais indicada para conduzir qualquer produto ou derivado de Mario: foi o desenvolvedor de jogos eletrônicos que, em 1981, criou o personagem, quando ele ainda nem ostentava seu nome atual.

Desde então, os jogos do baixinho saltador tornaram-se cada vez mais populares, mesmo que Bob Hoskins, seu intérprete no live-action, não fizesse ideia de quem estava interpretando no filme.

Durante as filmagens, Hoskins comentou com um de seus filhos sobre o projeto, e citou o título do longa. Imediatamente, o menino pegou uma das fitas de Mario, para NES, e mostrou ao pai, que enfim descobriu mais detalhes sobre a adaptação.

Abuso de álcool e briga de casal: os polêmicos bastidores de “Super Mario Bros.”

Atualmente, é impensável que o ator principal de um filme desconheça as origens e características básicas de seu personagem. Embora o falecido Bob Hoskins não tenha sido o responsável pela gafe, o ator e seu coprotagonista enfrentaram questões difíceis nos bastidores, que tornaram os trabalhos nos sets ainda mais desgastantes.

Em sua autobiografia, John Leguizamo, intérprete de Luigi, admite que ele e Hoskins bebiam bastante antes de filmar. Ele atribui a pressão dos produtores e o fracasso iminente, certeza a qual ele e seu parceiro de cena compartilhavam, aos problemas com álcool da dupla. Leguizamo quebrou um dedo da mão nas filmagens, o que pode ter ocorrido durante um de seus momentos de embriaguez.

Outro fator que atrapalhou o desenvolvimento do projeto foram as mudanças contínuas no roteiro. Originalmente, o script adotou um tom mais sério, porém, ao longo da produção, a equipe optou por seguir uma linha infantojuvenil. Muitas cenas foram reescritas, com o intuito de tirar do papel um filme capaz de divertir toda a família.

Porém, a repaginada do roteiro não foi feita com a colaboração e conhecimento total de Annabel Jankel e Rocky Morton, diretores do longa que também formavam um casal. A partir daí, as coisas só desandaram.

Dennis Hopper, que deu vida a Bowser, o vilão e Rei dos Koopas, disse que filmar o longa “foi um pesadelo”:

“Era uma equipe de direção formada por marido e mulher, ambos extremamente controladores, com a incapacidade de conversar entre si antes de tomar decisões. Eu deveria ter ficado lá [filmando] por cinco semanas, e fiquei por 17. Foi muito além do planejado”, disse Hopper, de acordo com o A.V. Club, alguns anos antes de falecer.

Em 2007, Bob Hoskins também descreveu o terror dos bastidores ao The Guardian:

“A pior coisa que eu já fiz? ‘Super Mario Bros’. Foi um pesadelo horrível. Toda a experiência foi um pesadelo. A arrogância dos diretores foi confundida com talento. Depois de tantas semanas, o agente deles os convidou a deixar o set. Maldito pesadelo. Malditos idiotas”, desabafou a estrela do longa.

“Super Mario Bros. – O Filme” é uma nova chance para a Nintendo?

Em setembro de 2021, durante a transmissão do Nintendo Direct, a tradicional desenvolvedora de videogames anunciou o elenco de “Super Mario Bros. – O Filme”, e começou a alimentar expectativas sobre o recomeço da franquia nos cinemas.

Os nomes, que emprestam suas vozes aos personagens na versão em inglês da animação, incluem Chris Pratt como o próprio Mario, Charlie Day como seu irmão Luigi, e as estrelas Anya Taylor-Joy (Princesa Peach), Jack Black (Bowser), Seth Rogen (Donkey Kong) e Keegan-Michael Key (Toad). Charles Martinet, dublador original do personagem-título, fará uma participação especial.

A Illumination Entertainment, responsável por sucessos como “Meu Malvado Favorito” (2010) e “Minions” (2015), está tocando o projeto do novo filme diretamente com Shigeru Miyamoto, criador do personagem – o que, três décadas antes, deveria ter sido feito.

Em entrevista à Variety, o CEO dos estúdios de animação, Chris Meledandri, garantiu que os erros cometidos no fadado live-action não se repetirão. Desta vez, ele promete que a adaptação será desafiadora e que agradará a todas as gerações de fãs Mario.

Será que o novo filme vai conseguir honrar o legado dos irmãos encanadores, enfim? O longa é dirigido por Aaron Horvath e Michael Jelenic, e já está em cartaz nos cinemas.